sexta-feira, 25 de abril de 2008

Folhas e flores na Pizzaria Familia Lucco

Alexandre Casagrande e uma foto da Famiglia Lucco fazendo um pic nic.


Tudo começou na exposição que fiz no colégio São Domingos, onde meu filho Manuel estuda. Uma daquelas atividades escolares para promover a integração entre pais, mestres e alunos. Ocupei um dos muros da quadra de esportes mostrando ali, na íntegra, a exposição de fotografias “Flores, folhas e frutos”. Libero Malavoglia viu e me fez muitos elogios.
Dias depois ele me liga dizendo que um amigo queria ver aquelas fotografias. Vieram. Ele e o Alexandre Casagrande que é diretor de filmes comerciais para TV.
Alexandre é da Famiglia Lucco. Seus pais mantiveram uma pizzaria na Rua Coriolano, na Lapa, em São Paulo, desde 1982. Recentemente o proprietário pediu o imóvel.
Compraram uma casa, reformaram e mudaram de endereço. Agora estão na Rua Faustolo, 642. Continuam no bairro da Lapa.
Ontem foi a inauguração para convidados da nova pizzaria com uma nova arquitetura. Alexandre suou muito, fez alguns móveis e foi o curador da exposição de desenhos e fotografias que ocupam as paredes do primeiro e segundo andar. A pizza continua muito boa. Minhas fotos estão na parede direita do segundo andar. Apareçam.

sábado, 19 de abril de 2008

Pacto com o tinhoso, o sem-nome, o coisa ruim


23 km ao norte da margem direita do Rio Ribeira, nas proximidades de Eldorado Paulista, Antonio Jorge lidera a comunidade quilombola Pedro Cubas. Bom de prosa e memória invejável contou esta história. Afirmou que ela vem de pai pra filho desde os tempos da escravidão!

“Pedro Cubas foi um escravo de Antonio Jorge, senhor de grandes áreas que iam desde Itapecerica da Serra até Iporanga, nas proximidades da Caverna do Diabo. Antonio Jorge era um homem muito orgulhoso. Não queria parecer pobre. Fez um pacto como o Tinhoso para não empobrecer nunca. No dia de selarem o acordo, o Sem-nome pediu para ele colocar uma venda nos olhos e o levou para um lugar desconhecido. Lá firmaram o contrato e assinaram com sangue. E assim Antonio Jorge foi levando a vida sem problemas financeiros. A produção agrícola suas terras nas margens do Rio Ribeira (nasce no Paraná e deságua em Iguape, litoral sul de São Paulo) era embarcada numa canoa de cinco palmos de largura por trinta palmos de comprimento. Quando a carga estava acondicionada mandava o remador deitar no casco da embarcação e fechar os olhos. Depois mandava abrir e, num piscar de olhos, chegavam em Registro para vender as mercadorias.
Sempre que precisava de dinheiro Antonio Jorge chamava o Demo para uma conversa, colocava uma venda nos olhos e se encontravam num outro lugar. Antonio voltava com o dinheiro e ia cumprindo seus compromissos.
Numa tarde, às três horas, tempo feio, nublado, raios cortando os céus, Antonio Jorge sumiu pela janela de sua casa. Escafedeu-se. Sua mulher Rosa Bette sabia do pacto. Para não criar especulações mandou cortar um toco de tronco de banana nanica e colocou no caixão coberto de pano e enterraram no cemitério de Eldorado. Depois de algum tempo em vez da cova se afundar, o que seria o normal, nasceu um pé de banana. Escavaram e não encontraram nenhum osso.”

Ontem, na comunidade Pedro Cubas, foi feito um plantio de mudas de várias espécies de árvores que faz parte do projeto de reflorestamento do Vale do Ribeira, apoiado pelo Instituto Sócio Ambiental ISA e Iniciativa Verde, com o suporte financeiro da Aymoré Financiamentos. O mutirão foi feito nas margens do Córrego Pedro Cubas para recompor as matas ciliares. Antonio Jorge, o líder comunitário, dirigiu todo o trabalho. Os homens ajudaram fazendo as covas, cortando estacas e plantando. As mulheres da comunidade fizeram bolos, biscoitos e um almoço com carne de panela, galinha caipira e refresco feito com limão capeta.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

HOENAITARI, soprador de palavras mágicas

Dois anos atrás, abril de 2006, presenciei uma das mais maravilhosas apresentações humanas. O Yãkwa. A festa da etnia Enawenê-nawe para os espíritos subterrâneos. Foram quatro dias de puro encantamento. Em homenagem ao dia do índio, 19 de abril, aqui vai um pequeno portfólio do que foi esta apresentação. Aprendi esta palavra Hoenaitari e sua tradução - soprador de palavras mágicas














quinta-feira, 10 de abril de 2008

Museu do Clube da Esquina

Marcio Borges preside a assembléia

Foi realizada ontem em Belo Horizonte a assembléia para reeleição da diretoria do Museu do Cube da Esquina. Marcio Borges vai dirigi-lo por mais um período. Na nova etapa está prevista a sede física do Museu no antigo Cine Santa Tereza, localizado no bairro do mesmo nome e onde tem a famosa esquina que foi o começo de um dos mais importantes movimentos musicais brasileiros. “Nos anos setenta, um grupo de mineiros se afirmou no cenário da música popular brasileira com profundas conseqüências para sua história, tanto no âmbito doméstico quanto no internacional. Eles traziam o que só Minas pode trazer: os frutos de um paciente amadurecimento de impulsos culturais do povo brasileiro, o esboço (ainda que muito bem-acabado) de uma síntese possível. Minas pode desconfiar das experiências arriscadas e, sobretudo, dos anúncios arrogantes de duvidosas descobertas. Mas está se preparando para aprofundar as questões que foram sugeridas pelas descobertas anteriores cuja validade foi confirmada pelo tempo. Em Minas o caldo engrossa, o tempero entranha, o sentimento se verticaliza” (Caetano Veloso, prefácio do livro Os sonhos não envelhecem)

Alí na sede do Museu vão ter oficinas de música, poesia, fotografia e muitas outras fazendo reerguer das cinzas o antigo “pulgueiro” que será remodelado com previsão de abertura para 2009.

Uma poesia de Candido Portinari

São Francisco por Candido Portinari - Painel em azulejo na Igreja da Pampulha


Poesia não é coisa que fica, não.
Poesia é coisa que vem e passa.
Passa como um passarinho muito raro.
Passa depressa.
A gente vai querer segurar,
ele voa e vai-se embora.
Hoje, quando eu estava pintando o braço de São Francisco, ali perto da cabeça dele, eu senti um – viup – um raspão de poesia.
(Candido Portinari)


É poesia pura o conjunto da arquitetura de Oscar Niemeyer e os painéis de Candido Portinari na Igreja da Pampulha.

domingo, 6 de abril de 2008

Julian Beck & Judith Malina

Reproduções da reportagem publicada na revista O CRUZEIRO - junho 971


Living Theather em Minas
Texto de Fernando Brandt
Fotos de Juvenal E. Pereira


Ouro Preto assistiu, no mês passado, à exibição de um grupo teatral de vanguarda, recriado por dois americanos fundadores do Living Theather. Julian Beck e Judith Malina, após atuarem, durante vinte anos, na Europa e Estados Unidos, tentam agora mostrar aos brasileiros a razão de sua peregrinação: levar o teatro ao povo, sem formalismo, num convívio direto, aplicando o seu binômio: vida e trabalho (amor e teatro) e a fila do casal (ao lado com o pai) participa da existência comunitária, em que as perspectivas artísticas conduzem a palcos como o de Saramenha



Ele sai pelas ruas com a filha Isha e faz as compras do dia. Ela – a mesma vaidade feminina – pinta o rosto, em frente à janela. O fotógrafo começa a segui-los. É importante mostrar a todos como eles vivem. Julian Beck e Judith Malina – remanescentes do Living Theather, movimento que fundaram e que, durante vinte anos, agitou e impulsionou o teatro na Europa e os estados Unidos – estão em Ouro Preto.
Seus novos companheiros de trabalho e vida: três brasileiros, um peruano, alguns americanos, europeus, australianos. Numa casa da Rua Pandiá Calógeras, a poucos metros da Estação da Central, vivem, comunitariamente, 24 horas, dedicados ao binômio que os liga e inspira – a vida (amor) e trabalho (teatro), dualidade que acaba não existindo, segundo dizem:
“O trabalho é algo que fazemos em todas as situações, enquanto comemos, dormimos, fazemos compras, viajamos ou fazemos amor.”
Além disso, se a gente se sensibiliza com o mundo e seus problemas, o trabalho torna-se, obrigatoriamente, parte da vida e os dois se confundem.
Sobre a vida em comunidade: não entendem como um grupo possa fazer um trabalho desalienante se os seus integrantes não vivem juntos , não participam de todos os problemas juntos, se o trabalho é produto de vários impulsos individuais alienados.

CONTATO POPULAR

Buscando o contato com as pessoas simples, “pois elas entendem tudo melhor”, fugindo do teatro de palco, público e tradições burguesas, de gravata e aplausos convencionais, eles procuram a praça pública, onde está o povo, “e é com ele que queremos falar”.
Não possuem a forma de chegar, integralmente, ao coração das pessoas da rua, sem concessões, mas a procuram, a todo momento, no trabalho diário. Em Ouro Preto pretendiam fazem um espetáculo durante o Festival de Inverno, mas os organizadores não quiseram, e eles não entenderam.
O CRUZEIRO esteve com o grupo em sua primeira apresentação em Minas Gerais. Um ritual de incrível beleza, de plasticidade e libertação, com a colaboração dos meninos do grupo escolar de Saramenha. No centro do imenso salão, dividido em seis partes, o teatro começa, cifrão, casa, relógio e coração são os símbolos e vão sendo percorridos e vencidos por 80 garotos, de 12 a 14 anos, e pelos 13 integrantes do Living Theather. Representavam os sonhos sobre a mãe. O espetáculo era em sua homenagem.
Os movimentos coletivos, a criação em conjunto, tornaram-se um jogo, belo e puro de que todos queriam participar. No final, derrotada a Big Mother, o encontro do amor e o desejo de respirar (adquirir força), viver, e a vontade de voar, voar, voar, como gritavam todos, e destruir os laços, os preconceitos. Lá fora, depois de tudo, os símbolos voltaram a se materializar.

PERSPECTIVAS
Agora, caminhando pela estrada, de volta a Ouro Preto, pedem carona e conseguem. Vão conversando com a gente simples, como gente simples. Os cabelos, as roupas, a língua estranha (de alguns, pois muitos já falam o português) não assustam ninguém. Estão à vontade.
Em casa irão discutir os resultados, as condições e perspectivas do trabalho. E, de manhã, estarão novamente circulando pelas ruas da cidade, mas não por muito tempo, pois suas horas se dividem entre o lar e um quarto no fundo do restaurante Calabouço, onde também trabalham. Como não poderão se apresentar no Festival de Inverno, fica-se esperando notícias de suas atividades futuras, olhando para eles, torcendo por eles...

sábado, 5 de abril de 2008

O Grupo Living Theather foi expulso do Brasil

Fotos de Juvenal Pereira para a revista O Cruzeiro em 1971
Acima: encenação da peça Big Mother em Saramenha

A Associação Cultura Arquivo Público Mineiro com o apoio da Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais vai publicar um livro sobre a passagem do Living Theatre em Minas Gerais, Ouro Preto e BH no ano de 1971.
Outra coisa, este trabalho não visa lucro, ele não será vendido,a tiragem de 1.000 serão doados às instituições públicas e privadas selecionadas, escola e afins. Queremos homenagear a Judith Malina e informar às novas gerações dos horrores da ditadura, nós da geração que vivemos ou se não vivemos pessoalmente esta fase, tivemos reflexos para sua vida. Roseli

Recebi estas informações de e-mails, na quarta-feira 1 de abril. Queriam fotos que fiz do grupo e da única apresentação em Saramenha (3 km de Ouro preto). Criaram um peça coletiva “Big Mother”com as crianças da escola pública da cidade (grupo escolar). A Peça foi apresentada em homenagem ao dia das mães. Eu e Fernando Brant os jornalistas presentes na apresentação. Uma matéria de 3 páginas foi publicada na revista O Cruzeiro em1971


Jornal Estado de Minas, domingo dia 18 de maio de 1980
Festival Ameaçado
Expulsão de Julien Beck, a primeira grande queda.



Julian Beck e Judith Malina em Saramenha

Nem os poetas que aspiram pela liberdade nem as conspirações ou o cheiro de insurreição, que exala pelos poros desta cidade; nem o ar de juventude que tomou cona desta Praça, neste julho de 1971, nem a fumaça que sai da boca com este frio; nem este céu calado, mas constelado; nem os abraços que transformam esta cidade num leito de amor; nem o inverno que espalha agasalhos, botas, cobertores, fizeram de Outro Preto, neste julho de 1971, um Brasil diferente.
Neste Julho de 1971 Julien Beck e Judith Malina serão presos e mostrarão um Brasil medroso. Daqui a alguns instantes Julien e Judith serão os responsáveis pelo primeiro estremecimento do Festival de inverno depois de quatro anos de realização. Julien e Judith serão levados de sua casa, na Rua Pandiá Calógeras 23, em Ouro Preto, por pregarem ä paz, a liberdade, o fim do ódio e das guerras. Estarão, daqui a pouco, na Delegacia de Ouro Preto e, logo depois, no DOPS de Belo Horizonte. Responderão a inquérito. Serão acusados de “maconheiros”. Como réus, neste julho de 1971, serão responsabilizados por denegrirem o nome do Brasil e, expulsos, como corpos estranhos a este julho de 1971.
Como nos tempos de Tiradentes, Julien Beck e Judith Malina se tornarão sintoma de um Brasil aprisionado. Com a força do AI-5 que, neste julho de 1971, ainda insiste em cassar e punir. Julien Beck e Judith Malina, arrumarão as malas e serão expurgados das ruas de Ouro Preto. Como duas manchas, eles serão banidos. Dois meses depois de sua prisão. Com o silêncio dos trabalhadores brasileiros que estão, neste julho de 1971,nas fábricas e ainda não ousam dar o primeiro grito. Julien Beck e Judith Malina, sua mulher, serão recolhidos ao DOPS, como os estudantes os operários e os políticos, que tiveram a coragem neste julho de 1971 de, nas escolas, nas fábricas, nas ruas, nas tribunas ou em qualquer cante deste Brasil, discordar deste julho de 1971.

No depoimento ele jura inocência

De calça comprida, camisa branca de mangas compridas, Judith Malina, a mulher de Julien Beck, iniciou seu depoimento. Disse:
“Que tinha inimigos em Ouro Preto, mas nãosabia os nomes por nãopossuir prova a respeito: que se trata de mera suspeita; que estes inimigos tinha colocado a maconha dentro de sua casa; que faz uma idéia”de quem ossa ter colocado a maconha, só ao possuindo provas; que as essoas fizeram isto or ser as mesmas que os têm insultado publicamente através de telegramas dirigidos às autoridades policiais, em sermões na Igreja Católica; que o Living theather procurava manter contatos com jovens brasileiros, [porque isso era imortante para o serviço teatral do grupo; que sua casa na ua Pandiá Calógeras estava sempre aberta aos pobres, onde recebiam alimenta;cão; que sempre viveu feliz com Julien Beck; que chegou a Ouro Preto com Julien Beck em novembro de 1970; que tem curso de arte dramática numa Universidade de Nova Iorque; que foi presa aproximadamente, sete vezes, nos Estados Unidos, em lutas contra a discriminação racial, chegando a ficar detida durante 30 dias”

Em seu interrogatório – o mais longo de todos – Julien Beck disse:
“Que é totalmente inverídica a acusação contra ele; que já teve experiência com maconha há muito tempo, mas que há dois anos parou de fumar até mesmo cigarros comuns, que não sabe quem colocou a erva em sua casa; que suspeita que tenha sido um inimigo, cujo nome não sabe; que não sabe a autoria de um cartaz encontrado no portão de sua casa, indicando o local onde estava enterrada a maconha; que isso também foi feito por um inimigo “anônimo”; que em fevereiro passou a morar em Ouro Preto, vindo de São Paulo, e que não arranjou inimigos ali; que existe a cidade um “forte preconceito contra o grupo Living Theatre, partindo de uma série de telegramas que pessoas “gradas” em Ouro Preto passaram ao DOPS, aplaudindo sua prisão; que não pode acusar quem assinou os telegramas como “sendo seus inimigos”; que acredita que estas pessoas estariam influenciando”outras contra ele e o pessoal do grupo; que, pessoalmente, foi muito bem tratado na polícia; que não foi forçado a falar como consta em depoimento anterior, o que pode ter contribuído “para a confusão a respeito do que disse inicialmente”.
Sobre as atividades em Ouro Preto afirmou:
- Que o grupo estava preparando uma peça teatral, que seria exibida em todo o País; que ele e os outros do Living vivem do dinheiro que recebem pelos direitos autorais de pecas e livros; que não sabe se alguém do grupo tinha maconha ou qualquer outro tipo de entorpecente; que não faz uso do álcool ou sequer de aspirina, com mede de sentir-se mal; que às vezes bebe vinho, que não tem nenhum curso universitário; que apenas matriculou-se na Universidade de Yale, deixando o curso para dedicar-se ao teatro; que estudou muito a arte teatral, bem como todas as outras artes, a ciência filosófica e a teologia; que foi preso em Nova Iorque varias vezes, por protestar contra o emprego de armas atômicas em guerras; depois porque seu teatro estava em situação ilegal; que na terceira vez ficou detido durante 80 dias, porque ofende verbalmente o juiz que o julgou; que suas prisões em outros países, foi sempre pelo mesmo motivo: questão de princípios”.

Um decreto, assinado pelo então presidente da República, Garrastazu Medici, expulsa Julien Beck, Judith Malina, sua mulher, e mais 11 atores do Living Theather do Brasil

Pelo decreto 66689, artigo 100, de 11 de junho de 1969, dizia: Durante os primeiros dias de julho,membros do grupo internacional de teatro, conhecidos como Living Theather, foram presos em Minas Gerais, acusados de crime descrito no artigo 218 do Código Penal. Sua prisão levantou uma onda de protesto em várias partes do mundo, atribuindo ao governo brasileiro conduta inamistosa em relação ao mundo teatral e isto foi explorado por inimigos de nosso País, através de uma campanha difamatória que empreenderam contra o Brasil. Esta campanha tem sido incentivada por membros do próprio Living Theather, através de declarações distribuídas pela imprensa inernacional. Isto ambem constitui um crime contra a segurança nacional. Este comportamento torna a presen;Ca destes estrangeiros, presos em Minas Gerais, absolutamente erniciosa aos interesses nacionais e torna-os passíveis de expulsão. Além disso, umuterior adiamento da liberdde deles, causada pelas dificuldades impostas no decorrer normal de seu processo criminoso, agora em andamento emMinas Gerais, estimularia,ainda mais ações da parte destes desejosos de denegrir o bom nome do Brasil”

Cinco dias deposi do decreto presidencial, eles embarcaram para o rio de Janeiro, com destino a Nova Iorque. Em seu diário, Judith Malina, conta como recebeu a expulsão:
Judith Malina no escritório nos fundos do restaurante Calabouço

“E assim teremos que deixar o Brasil O julgamento continuará sem nós. O silêncio no Tribunal é pesado. O silêncios sombrio dos advogados está misturado de outros sentimentos. Nosso silêncio é igualmente estranho. Está quase tudo acabado. Deixamos ouro Preto pela ‘ltima vez. Nossos amigos, em grande número, reúnem-se em torno do ônibus. Há os dois cozinheiros do resgtaurante Calabouço, os dois rapazes da favela de rãs da casa. O ônibus sobe a rua Direita. Com o meu rosto apertado contra a janela do ônibus,as lágrima descem de repente. Eu amo o Brasil. Na Praça Tiradentes tudo esta muito calmo. Dois estudantes estão sentados na base do monumento a Tiradentes. Quando nosso ônibus passa, um deles levanta a mão com o punho cerrado. Quando cheamos ao DOPS, as luzes das câmaras e os flashs nos põem tontos. Repórteres, advogados, mil perguntas: quando? Quais as notícias oficiais? O que há sobre os brasileiros do grupo? Para onde vamos?quando vamos ser soltos? O que significa ser banido? Poderemos voltar um dia?
Levará tempo antes que tudo fique claro. Agora apenas dizemos isto: estaremos tristes por deixar o Brasil. Queremos voltar.

Uma proposta: trabalhar de graça

- O que significou para o Festival de Inverno, a prisão e expulsão de Julien Beck, sua mulher e de mais 11 integrantes do Living Theather?
Julio Varela, diretor executivo do Festival de Inverno, diz que tudo não passou de um “mal entendido”, pois o pessoal do Living Theather, apesar de ter sido preso no primeiro dia do Festival, não participava dele. “A coordenação do Festival de Inverno tentara um entrosamento com eles anteriormente, pois Julien Beck me escreveu uma carta de São Paulo, na qual dizia do seu entusiasmo de criar um novo trabalho para o Festival de Ouro Preto. Em seguida, ele dava o seu currículo. Nos não chegamos a combinar nada, porque o dinheiro que eles pediam era muito maior do que a gente tinha para toda a programação. Embora nos tivessem oferecido, às vésperas do Festival, a apresentação gratuitamente, achamos melhor não modificar mais a programação, porque já estava em cima da hora. Então, eles não participaram do Festival. No entanto, vincularam tudo ao Festival de Inverno. Acontece que o Grupo já estava morando em Ouro Preto desde novembro do ano anterior”. Esta foi a primeira sombra que desceu sobre o Festival de Inverno.
Julian Beck

A Carta

A carta de Julien Beck a Julio Varela não foi publicada pela imprens,na época. Ela está datada de primeiro de fevereiro de 1971 e está, na íntegra:

“Caro Júlio Varela,”
Nosso entusiasmo para criar um novo trabalho para o Festival de Ouro Preto não tem diminuído desde que falamos juntos em dezembro passado. Temos pensado sobre isso durante as seis últimas semanas e achamos que as idéias estão ao ponto de florescer. Esperamos que seja possível chegarmos a um acordo para que possamos fazer o trabalho juntos.
O projeto que temos em mente é a criação dum ciclo de peças para serem apresentadas em diferentes partes de uma cidade, em diferentes tipos de lugares, durante um período de dez dias. Isto quer dizer que queremos criar, talvez, cinqüenta peças ou mais, que serão apresentadas em lugares diferentes de Ouro Preto. Há, como se sabe, um movimento no teatro moderno para criar teatro fora da tradicional arquitetura do teatro, um movimento que quer ver a barreira entre arte e vida desaparecer. Nosso trabalho é parte desse movimento. O Festival de Ouro Preto poderia ser o lugr da estréia mundial de nosso primeiro maior trabalho desse tipo.
O grupo Living Theaher que está trabalhando aqui é composto por brasileiros e os membros do Living Theather que vieram da Europa e dos Estados Unidos. Nós já temos um forte conjunto que é capaz de fazer esse trabalho. Nós já estivemos trabalhando juntos por alguns meses e já temos apresentado juntos alguns esktches (esboços) desse novo trabalho nas praças centrais de Embu e de Rio Claro (SP). Eu acho que todo o mundo esta muito encourageado pelo sucesso dessas primeiras tentativas.
Junto com estão vão incluídas algumas informações sobre nosso trabalho passado: duas bibliografias de nosso trabalho, uma em francês, uma em italiano; uma lista de nossas apresentações durante os últimos seis anos e cópias de capas de alguns dos livros escritos sobre nosso trabalho. A lista dos livros inclui também:
- Paradise. Now/The Living Theatre. Ein Bericht In Wort und Bild. Por Erika Billeter/D”olf Preising, Zurick 1968.
- The Living Theather, por Carlo Silvestri, Lerici, torino, Italia 1970
- the Living Theather, by Danae Brooke, MacMillan, New York, janeiro 1971
- The Living Theaher, by Danae Beriew, Volume 1, Number 2, 1969
Espero que isto seja suficiente “background information” para o momento.
Para preparar este traalho para o Festival utilizaremos um processo de criação coletiva, o mesmo processo que deu origem a nossas obras: “Mysteries and Smaller Pieces”, “Frankenstein”, “Paradise Now”, e a mise-em-scene para Äntigone”. Este e um longo processo, que precisara um período de ensaio de pelo menos cinco meses. Nós já temos de fato começado esse trabalho, mas precisaríamos de algum suporte financeiro do Festival para completá-lo. Então, o dinheiro que pedimos é para ajudar a cobrir as nossas despesas cotidianas, e as despesas de esaio e preparação da produção.
Com isto em mente esperamos que seja possível para o Festival pagar um cachet de 40 mil cruzeiros (quarenta mil) o equivalente à 4.000 CR$ para cada dia de apresentação no Festival. É isto possível?
Eu quero expressar o nosso grande desejo de fazer este trabalho para o Festival de Ouro Preto. Como estaremos vivendo em Ouro Preto, durante o período de ensaios, a obra poderia ser especialmente concebida para a ambiência. Se for um êxito, poderá ser um importante experimento no desenvolvimento da arte teatral. Estamos prontos para fazer todo o possível para realizar esse trabalho.
Esta carta está sendo escrita de São Paulo. Retornamos a Ouro Preto no dia 8 de fevereiro onde ficaremos até o dia 19 de fevereiro, quando precisaremos voltar ao Rio e São Paulo por duas semanas para fazer um trabalho em televisão que seria, de fato, outro trabalho preparatório, um prólogo, para a vasta obra a ser estreadas no Fesival de Ouro Preto. Esperamos seja breve qualquer contato da sua parte”.
Sinceramente Julien Beck

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Comandos Contemporâneos

Nova sede da Cooperativa dos Artistas Visuais do Brasil, ainda sem maquiagem.

Ontem na Casa da Palmeira, a nova sede da Cooperativa dos Artistas Visuais do Brasil, em São Paulo, o artista plástico José Roberto Aguillar, o novo presidente, apresentou para os associados o manifesto Comandos Contemporâneos.
Como eu gostaria que um manifesto - pelo menos próximo ao conteúdo deste, tivesse acontecido nos anos 60. Naquela época falávamos com medo de ser ouvidos. Uma paranóia sem limites.
Em primeira mão.

COMANDOS CONTEMPORÂNEOS
Cooperativa dos Artistas Visuais do Brasil

A Cooperativa tem uma estória. Muitas exposições dos artistas cooperados, uma grande exposição nacional que foi O ABERTO junto à bienal de São Paulo em 2004 e muita luta. Então não vamos esquecer o passado, mas vamos plugar no presente. Vamos inaugurar nossa sede dia 10 de maio na rua Fradique Coutinho 1784, Vila Madalena. Nesta rua se encontram a galleria André Millan, a galleria Fortes Villaça, a galleria da Chiclete e agora OS COMANDOS CONTEMPORÂNEOS da Cooperativa.

O que são COMANDOS CONTEMPORÂNEOS?
Exposições em dinamismo constante. Exposições em aberto, sem o fechamento estético, formal, conceitual e até contractual de uma galleria ou exposições realizadas em museus ou instituições afuniladas por curadores. É também uma mestiçagem de linguagens onde fronteiras não são delimitadas, não precisa de passaporte; onde a video-arte dialoga com pinturas, onde a moda dialoga com pinturas, video-arte e dança, escultura e instalações, performances e fotografia, enfim onde todas as linguagens conversam entre sí. Exposição dentro do local de exposição e exposição fora do local de exposição, isto é, nas ruas.

CONVITE
ESTAMOS CONVIDANDO TODOS OS ARTISTAS E ESTUDANTES DE ARTE (MODA, DESIGN, VIDEO, CINEMA, ARTES PLÁSTICAS, FOTOGRAFIA, DANÇA, TEATRO, CIRCO, MÚSICA, POESIA) A SE ASSOCIAREM AOS COMANDOS CONTEMPORÂNEOS da Cooperativa dos Artistas Visuais PARA PARTICIPAREM DESTE PRIMEIRO EVENTO.



AONDE?

Em toda a Rua Fradique Coutinho inclusive dentro da sede dos Comandos da Cooperativa que é no númereo 1784. Vai ser UM COMANDO CONTEMPORÂNEO DA FRADIQUE COUTINHO. Repetiremos estes comandos contemporâneos a cada dois meses. COMANDOS BIMENSAIS E NÃO BIENAIS, em outras ruas da cidade.

EXEMPLOS DE ATUAÇÃOModa: poderá se criar vestimentas para uma pessoa, 2, 3, quatro ou cinco podendo ser pintadas ou não.
Video: serão exibidos num telão em frente a nossa sede. Performances, danças: nas ruas ou na sede.
Pintura: como nosso espaço é pequeno, vamos delimitar um tamanho pequeno para quadros e esculturas. Telas grandes poderão ser expostas junto com o artista na rua, como um estandarte movimentado pelo artista ou mesmo um artista-sanduiche.
Fotografia: 24 horas da Vila Madalena
Este evento não se restringirá ao dia 10 de maio. Poderá acontecer todos os sábados ou/e domingos durante os 2 mêses do evento.

TODA AÇÃO SERÁ FOTOGRAFADA E VIDEOTEIPADA E APRESENTADA NO NOSSO SITE.
Condição primeira para participar deste evento: ser cooperado.
Custo: R$ 90,00 a cada 3 mêses
Veja o estatuto e como pode ser feita a inscrição neste site:



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