quarta-feira, 10 de junho de 2009

Virginia - A pretinha



Não me tomem por preconceituoso no uso do adjetivo pretinha. É só uma forma carinhosa de indicar a Virginia, esta da foto. Ela, com freqüência, durante muitas e muitas sessões na Câmara dos Vereadores ocupava uma cadeira, ora no Salão Nobre, ora no Plenário, ora no Plenarinho e ficava ali ouvindo e algumas vezes arriscou comentar e argumentar. Como tenho uma predileção pelas pessoas diferentes fui observando suas atitudes e posturas. Um dia perguntei quem ela era.
Me disse: Meu pai é diplomata.
De onde?
Ele é juiz!
Parou por ai a conversa. Admirava sua assiduidade na casa do povo paulistano. Meus colegas torciam um pouco o nariz pela minha simpatia e argumentavam que ela não batia bem da cabeça.
Como a casa é do povo e no povo tem gente assim porque não ela também?
No mês passado quando saia da sala para mais uma pauta ouço choro e vozes altas na porta do elevador do segundo andar. Minha pretinha, rodeada por dois policiais militares, era escoltada e "convidada" a se retirar da casa.
Perguntei para diversas pessoas o que aconteceu e cada um contava uma história.
Ela morava com 8 irmãos numa casa no Jardim Ângela, Ela dizia que era funcionária da SABESP. Ela dizia para visitantes da Câmara que trabalhava no Cerimonial. Ela dizia que era casada com um dos repórteres da TV.
Naquele dia os dois policiais levaram a Virginia para a Delegacia porque um dos funcionários da casa se sentiu ofendido por ela e fez um BO na delegacia e lá foi minha pretinha falar com o delegado. Ficou internada um mês em um hospital psiquiátrico. Ontem ela reapareceu e, na frente desta foto do Sebastião Salgado que mostra um campo de refugiados na África, fiz a foto.
Perguntei o que tinha acontecido. Ela me contou que ficou internada e agora faz defesa pessoal numa academia de ginástica. Quer ser policial.

Um comentário:

el pájaro que come piedra disse...

Que bela história, Juva!
Me lembrou o Bandeira:

Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.

Imagino Irene entrando no céu:
- Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.